sexta-feira, 26 de julho de 2013

Ergonomia: Análise das condições de trabalho

           O setor de Alimentação Coletiva vem se tornando um mercado representativo na economia mundial, o ritmo de vida moderno contribuiu significativamente para a conquista deste espaço. O número de refeições realizadas fora de casa já é bastante significativo em países da Europa Ocidental e Estados Unidos da América (PROENÇA, 1996).
            A alimentação coletiva corresponde às necessidades da vida urbano-industrial, na qual as distâncias, as características dos processos produtivos (ritmos e continuidade no fluxo de produção) e a organização do trabalho (divisão e integração do trabalho) são fatores que restringem as possibilidades do trabalhador realizar suas refeições durante a jornada de trabalho no próprio domicílio (PROENÇA, 1993).
            No Brasil, freqüentemente a produção de refeições exige dos operadores alta produtividade em tempo limitado, porém em condições inadequadas de trabalho, com problemas de ambiente, equipamento e processos. Tais condições acabam levando a insatisfações, cansaço excessivo, queda de produtividade problemas de saúde e acidentes de trabalho (SANT’ANA et al., 1994).
            O mercado de refeições coletivas como um todo fornece 7,5 milhões de refeições/dia, movimenta uma cifra superior a 8 bilhões de reais por ano, oferece 180 mil empregos diretos, consome diariamente um volume de 3,5 mil toneladas de alimentos e representa para os governos uma receita de 2 bilhão de reais anuais entre impostos e contribuições (ABERC,2008).
            Ressaltando a importância da Ergonomia, que evidencia a distância entre o trabalho prescrito e o real, mostrando que para os trabalhadores, especialmente aqueles pertencentes as UAN’s, as condicionantes físico-ambientais e organizacionais muitas vezes exigem uma representação mental diferenciada a cada dia (novas preparações, imprevisibilidade, novas pressões temporais, etc.) nem sempre previstas na fase do planejamento. Por isso que o Taylorismo não cabe nos ambientes com grande imprevisibilidade como nas UAN’s. Assim sendo, a eliminação deste hiato entre planejamento e execução poderia contribuir no sentido de melhorar a produtividade.
            Como as refeições devem ser consumidas no mesmo dia em que são produzidas, observa-se uma grande pressão temporal das atividades, principalmente nos horários que antecedem a distribuição. Quanto ao ritmo de trabalho neste processo é considerado bastante intenso. Esse é determinado, principalmente, pelas limitações temporais de manipulação de alimentos e atendimento da clientela (MACIEL, 2002).
            Desta forma, o trabalho em UAN tem sido caracterizado por movimentos repetitivos, levantamento de peso excessivo e permanência por períodos prolongados na postura em pé. Além disso, sofre a pressão temporal da produção, a qual necessita ajustar-se aos horários de distribuição das refeições, condicionando e/ou modificando constantemente o modo operatório dos operadores, a fim de atender a demanda (MONTEIRO et al., 1997).
            Neste sentido, surge a preocupação com a saúde dos colaboradores de UAN, na medida da conscientização de que as condições de trabalho e de saúde estão diretamente relacionadas com o desempenho e produtividade (MATOS; PROENÇA, 2003).Sendo assim torna-se necessário criar condições adequadas para que as pessoas possam desenvolver a sua criatividade e evitar aquelas que possa gerar uma má qualidade de vida e stress no trabalho. E isso passa pelas contribuições da ergonomia.
            Portanto, preocupa-se a ergonomia não somente com as condições físicas do trabalho, mas também, com a sua organização. A ergonomia busca examinar o conteúdo das tarefas, os ritmos impostos aos trabalhadores, a divisão do trabalho, as relações de poder, as relações interpessoais, fatores estes que convergem para a desmotivação e insatisfação dos trabalhadores, no exercício de sua profissão (MARCON, 1997).
            Conforme Sousa (1990), muitas pesquisas que incluem a análise do processo de trabalho e das relações de trabalho em UAN’s concluíram que a ocorrência de doenças e de acidentes apresenta uma estreita relação com as condições ergonômicas existentes, que se apresentavam fora dos padrões recomendados para este tipo de produção.
            Matos (2000) observa que apesar dos avanços tecnológicos por que vem passando a produção de alimentação coletiva, a existência de espaços de trabalho adequados, a manutenção do ruído, da temperatura e umidade dentro das recomendações, fundamentadas no conhecimento científico da ergonomia e adequadas ao setor, ainda são um desafio para as unidades produtoras de refeições coletivas.
            Segundo Santana (1996), estudos sobre o setor têm demonstrado que as empresas de serviços de alimentação na tentativa de melhorar a qualidade e produtividade de seus serviços, têm investido mais no treinamento técnico de pessoal do que na adequação ergonômica do trabalho, o que na prática se traduz pelo não alcance dos objetivos esperados e com custos elevados.
            O trabalho em UAN’s é caracterizado como um processo de produção que utiliza intensivamente sua mão-de-obra, vários autores consideram como uma atividade árdua, de ritmo intenso, com posturas forçadas, mantidas por longos períodos (MONTEIRO et al., 1997).
            O desgaste humano é provocado pelo trabalho repetitivo, freqüentemente realizado em condições desfavoráveis (máquinas inadequadas, ruído excessivo, calor, poeiras, gases e vapores, ausência de pausa de repouso, horas-extras, etc) não é quantificável. O ritmo de trabalho imposto ao trabalhador está diretamente relacionado aos horários de distribuição das refeições, o que pode ocorrer em intervalos de duas horas até no máximo de seis horas, compreendidos entre o início das atividades até a distribuição da alimentação (SOUSA, 1990).
            As atividades desenvolvidas em UAN caracterizam-se por movimentos manuais repetitivos, levantamentos de pesos excessivos e permanência prolongada por períodos na postura em pé, ou mesmo numa postura constrangedora (CASAROTO; MENDES, 1997).A postura é determinada pelo posto de trabalho ou natureza da tarefa. Posturas inadequadas, imediatamente ou com o decorrer do tempo, apresentam dor. A dor, mais que a incapacidade, pode com freqüência, ser o fator limitante para o bom desempenho do trabalhador. A postura é tão importante para o desempenho das tarefas quanto para a promoção da saúde e minimização de estresse e desconforto durante o trabalho (MONTEIROet al, 1997).
            Quanto aos aspectos posturais nas atividades de UAN’s, Proença (1993, p. 42), salienta que diversos autores questionam a necessidade da maior parte das atividades em UAN’s serem realizadas em pé, sem nenhum tipo de apoio, além de observarem a falta de adequação dos meios de trabalho disponíveis, levando à manutenção de posturas forçadas, principalmente nas atividades de higienização de equipamentos, utensílios e instalações, bem como naquelas ligadas ao controle de comandos mal localizados.
            O trabalho parado, em pé, exige o trabalho estático da musculatura envolvida para manutenção da posição referida provocando facilmente a fadiga muscular. Além disso, há um aumento importante da pressão hidrostática do sangue nas veias das pernas acúmulo de líquidos tissulares nas extremidades inferiores favorecendo uma maior incidência de varizes e edemas de tornozelo (OROFINO, 2004).
            As tarefas que exigem longo tempo em pé devem ser intercaladas com tarefas que possam ser executadas na posição sentada ou andando, a fim de evitar a fadiga nas costas e pernas e, também, prevenir as varizes. Além disso, é necessário considerar que um estresse adicional pode surgir quando a cabeça e o tronco ficam inclinados, provocando dores no pescoço e nas costas (CRUZ, 2001, p.85).
            Por isso, é importante projetar postos de trabalho que permitam alternar a postura sentada com a postura em pé, mantendo um espaço mínimo para pernas e pés.Para a configuração dos locais de trabalho, a escolha da correta altura de trabalho é de essencial importância. Assim, se a área de trabalho é muito alta, freqüentemente os ombros são erguidos para compensar, o que leva a contrações musculares dolorosas, principalmente na nuca e nas costas. Por outro lado, se a área é baixa, as costas são sobrecarregadas pelo excesso de curvatura do tronco, propiciando dores nas costas. Por isso, as mesas de trabalho devem estar de acordo com as medidas antropométricas, tanto para o trabalho em pé quanto para o sentado (LEMOS, 1999, p.66).Quando a mesma bancada for utilizada por várias pessoas, sua altura deve ser
regulável para atender às diferenças individuais. Em trabalhos essencialmente manuais em pé, as alturas recomendadas variam de acordo com a altura do cotovelo do operador e a natureza do trabalho.
            Para as atividades como mexer, picar e fritar, as mãos e os cotovelos devem permanecer abaixo do nível dos ombros. Caso a permanência dos braços acima dos ombros seja inevitável, sua duração deve ser limitada, havendo descansos regulares durante sua realização.
            Vários tipos de tarefas exigem movimentos do corpo todo, pois atualmente, apesar de toda automatização do trabalho, levantamentos manuais ainda são freqüentes e necessários. Entretanto, respeitar os limites para o levantamento de peso e esclarecer sobre corretas na execução desta tarefa podem evitar e/ou minimizar futuros problemas de saúde (MONTEIRO et al, 1997).
Segundo Proença (1993), quanto aos aspectos posturais, a maioria das atividades nas UAN’s é realizada em pé, sem nenhum tipo de apoio, além de observar a falta de adequação dos meios de trabalho disponíveis, levando à manutenção de posturas forçadas, principalmente nas atividades de higienização de equipamentos, utensílios e instalações.
            O trabalho parado, em pé, exige o trabalho estático da musculatura envolvida para manutenção da posição referida provocando facilmente a fadiga muscular. Além disso, há um aumento importante da pressão hidrostática do sangue nas veias das pernas e o progressivo acúmulo de líquidos tissulares nas extremidades inferiores favorecendo uma maior incidência de varizes e edemas de tornozelo (OROFINO, 2004).
Para MATOS (2000) a Análise Ergonômica do Trabalho (AET) tem por objetivo a análise das exigências e condições reais da tarefa e análise das funções efetivamente utilizadas pelos trabalhadores para realizar sua tarefa. Segundo Orofino (2004), toda a AET deve sempre estar ligada na atividade real desempenhada pelo trabalhador, levando em conta as dificuldades dos novatos e as estratégias utilizadas pelos mais experientes. Para este autor, "é indispensável o diálogo com os trabalhadores, já que é impossível avaliar a carga de trabalho apenas pelas exigências da tarefa".
            As considerações sobre o sistema homem-máquina, a ser estudado no ambiente de trabalho, não consideram o homem de um lado e o dispositivo de trabalho de outro, mas sim sua inter-relação e onde não se esquece de que o homem e sua máquina estão ligados, de um modo determinante, a conjuntos mais vastos em diversos níveis (CASTRO, 2002).
            Em uma situação ideal, a ergonomia deveria ser aplicada desde as etapas iniciais do projeto de uma máquina, ambiente ou local de trabalho. Estas devem sempre incluir o ser humano como um de seus componentes. Dessa maneira, as características do homem devem ser consideradas conjuntamente com as características ou restrições das partes mecânicas ou ambientais, para ajustes mútuos (SANTOS, 2002).

Referências bibliográficas:
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CASAROTO, R. A.; MENDES, F. L. Avaliação Ergonômica de restaurantes. In: CONGRESSO LATINO AMERICANO DE ERGONOMIA, 4 E CONGRESSO
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MATOS, C.H. Condições de trabalho e estado nutricional de operadores do setor de
alimentação coletiva: um estudo de caso. Florianópolis, 2000. Dissertação (Mestrado em Engenharia de Produção) – Programa de Pós-graduação em Engenharia de produção, Universidade Federal de Santa Catarina. Disponível em: < http://teses.eps.ufsc.br/index.asp>. Acesso em: 02 outubro 2007.
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